O vestibular da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) é um dos mais tradicionais e concorridos do Brasil. Uma de suas características mais marcantes é a prova de redação, que exige dos candidatos não apenas domínio da escrita dissertativa-argumentativa, mas também uma leitura atenta e interpretação crítica de uma obra literária previamente anunciada. Com o exame discursivo de 2025 se aproximando, marcado para 1º de dezembro, e o tema deste ano baseado no livro O Conto da Aia, de Margaret Atwood, é hora de se preparar analisando os principais temas que já apareceram nas edições anteriores. Neste artigo, exploraremos os padrões temáticos da redação da UERJ, destacaremos os assuntos mais recorrentes e ofereceremos dicas para você se destacar na prova.
A Singularidade da Redação da UERJ
Diferente de vestibulares como o Enem, que surpreende os candidatos com temas atuais e imprevisíveis, a UERJ adota uma abordagem única: o tema da redação é sempre relacionado a uma obra literária divulgada com antecedência. Desde 2018, a universidade seleciona um livro específico para embasar a proposta, o que permite aos estudantes se prepararem com foco. A redação, com extensão entre 20 e 30 linhas, deve ser uma dissertação tradicional, com introdução, desenvolvimento (geralmente com dois argumentos) e conclusão, sem a necessidade de propostas de intervenção, como no Enem. A banca valoriza a argumentação clara, o uso criativo de repertórios e a conexão entre a obra e o tema proposto.
Nos últimos anos, os temas da UERJ têm girado em torno de questões filosóficas, sociais e éticas, muitas vezes com um viés reflexivo que exige dos candidatos uma análise profunda. Abaixo, analisaremos os principais temas abordados nas edições recentes, destacando como eles se conectam às obras e o que isso pode indicar para 2025.
Temas Recorrentes nas Últimas Edições
1. O Limite da Verdade e a Subjetividade (2022)
Em 2022, o tema da redação foi inspirado no romance policial Uma Janela em Copacabana, de Luiz Alfredo Garcia-Roza. A proposta partiu de uma fala do detetive Espinosa, que afirma: “certeza não é verdade”. Os candidatos foram desafiados a discutir a subjetividade da verdade e os limites da certeza em diferentes contextos. Esse tema reflete uma tendência da UERJ de explorar questões epistemológicas, ou seja, relacionadas ao conhecimento e à percepção da realidade. A obra, ambientada no Rio de Janeiro, trouxe à tona debates sobre fatos, conclusões e a influência das perspectivas individuais, temas que ressoam em discussões filosóficas e sociais.
Para esse tipo de proposta, os estudantes precisaram mobilizar repertórios como a filosofia de Immanuel Kant, que diferencia fenômeno (o que percebemos) e noumeno (a coisa em si), ou até mesmo exemplos contemporâneos, como a disseminação de desinformação nas redes sociais.
2. Resistência ao Destino (2023)
No vestibular de 2023, a obra escolhida foi Não Me Abandone Jamais, de Kazuo Ishiguro. O tema girou em torno da capacidade humana de se opor ao destino, um questionamento que surge da trama distópica sobre clones criados para doar órgãos. A UERJ pediu aos candidatos que refletissem sobre a liberdade, a consciência crítica e a possibilidade de transformação individual e coletiva. Esse tema evidencia outra característica recorrente: o interesse por dilemas existenciais e éticos.
Aqui, repertórios como o existencialismo de Jean-Paul Sartre, que enfatiza a liberdade como essência humana, ou referências históricas, como a luta contra regimes opressores, poderiam enriquecer a argumentação. A conexão com a realidade atual, como os movimentos por direitos humanos, também foi um caminho possível.
3. Moral e Humanidade em Tempos de Crise (2024)
Em 2024, o livro O Menino do Pijama Listrado, de John Boyne, inspirou a proposta de discutir a moral por trás da narrativa, que aborda a amizade entre um menino alemão e um prisioneiro judeu durante o Holocausto. A UERJ pediu que os candidatos analisassem os valores humanos em meio a contextos de violência e segregação. Esse tema reforça o interesse da universidade por questões históricas e éticas, especialmente aquelas que desafiam a empatia e a solidariedade.
Os estudantes puderam recorrer a eventos como o Holocausto para contextualizar a argumentação, além de citar pensadores como Hannah Arendt, que analisou a banalidade do mal, ou até mesmo trazer paralelos com conflitos contemporâneos.
4. O Papel da Religião e do Poder (2025)
Para 2025, o tema será baseado em O Conto da Aia, de Margaret Atwood, uma distopia que retrata um regime teocrático onde mulheres são reduzidas a papéis submissos. O edital indica que a proposta envolverá “uma questão levantada a partir do romance, que admite posicionamentos diferentes”. É provável que a UERJ explore temas como os limites da religião no controle social, o patriarcado ou a luta por autonomia feminina. Esses assuntos dialogam com discussões atuais sobre fundamentalismo, direitos das mulheres e autoritarismo.
Repertórios como o feminismo de Simone de Beauvoir, que aborda a construção social do gênero, ou exemplos históricos, como a Inquisição, podem ser úteis. Além disso, a série homônima, baseada no livro, pode servir como um complemento para entender o impacto cultural da obra.
5. Fake News e Manipulação Política (2021)
Em 2021, a obra 1984, de George Orwell, trouxe à tona o tema das “mentiras programadas” como arma política. A redação pediu uma reflexão sobre a manipulação da informação e seus efeitos no poder. Esse tema reflete a preocupação da UERJ com questões contemporâneas, especialmente em um mundo marcado por fake news e polarização.
Citar o conceito de “pós-verdade” ou eventos como as eleições influenciadas por desinformação foram estratégias eficazes. A obra de Orwell, com sua crítica aos regimes totalitários, ofereceu um pano de fundo rico para discutir vigilância e controle.
6. Segregação Social e Identidade (2017)
Baseado em uma pintura de Augustus Earle e no livro Cidade Partida, de Zuenir Ventura, o tema de 2017 abordou a segregação no Rio de Janeiro, contrastando o título de “cidade maravilhosa” com a exclusão de parte da população. Esse foi um dos poucos casos em que a UERJ usou mais de uma referência, mas o foco em desigualdade social é um padrão recorrente.
Repertórios como a urbanização desordenada no Brasil ou as ideias de Milton Santos sobre espaço e exclusão enriqueceram as dissertações.
Padrões e Tendências
Analisando esses temas, percebemos algumas tendências claras na redação da UERJ:
- Questões Filosóficas e Éticas: Temas como verdade, destino e moral aparecem com frequência, exigindo reflexões profundas.
- Crítica Social: Segregação, manipulação e opressão são assuntos que conectam as obras a problemas reais.
- Contexto Histórico e Atual: A UERJ valoriza a capacidade de relacionar a obra a eventos passados ou contemporâneos.
- Pluralidade de Perspectivas: As propostas muitas vezes pedem posicionamentos que admitem diferentes visões, testando a argumentação.
Para 2025, com O Conto da Aia, espera-se um tema que combine crítica social e ética, possivelmente explorando poder, gênero ou liberdade individual. A obra oferece um terreno fértil para discutir autoritarismo e resistência, temas alinhados ao histórico da UERJ.
Dicas para se Preparar
- Leia a Obra com Atenção: Não basta conhecer o enredo de O Conto da Aia. Analise os temas centrais (opressão, teocracia, gênero) e anote passagens marcantes.
- Pratique a Estrutura Dissertativa: Treine introduções com teses claras, argumentos bem fundamentados e conclusões criativas.
- Amplie seu Repertório: Estude conceitos filosóficos (como liberdade e poder), fatos históricos (regimes autoritários) e atualidades (direitos das mulheres).
- Relacione a Obra ao Mundo Real: Pense em como os problemas de Gilead, o mundo fictício do livro, se refletem na sociedade atual.
- Seja Criativo: A UERJ valoriza conclusões originais e argumentos que fogem do óbvio.
Conclusão
A redação da UERJ é uma oportunidade para os candidatos mostrarem não apenas suas habilidades de escrita, mas também sua capacidade de pensar criticamente sobre questões complexas. Temas como verdade, destino, moral, poder e segregação dominaram as últimas edições, e 2025 promete seguir essa linha com O Conto da Aia. Ao compreender esses padrões e se preparar com antecedência, você estará um passo à frente na busca pela aprovação. Boa sorte nos estudos e na prova!